No congresso anual da ABRAPP (Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar, que representa os administradores de fundos de pensão no Brasil), a sustentabilidade foi um dos temas principais. O evento permitiu discussões aprofundadas com investidores institucionais brasileiros, reguladores, funcionários da B3 (anteriormente conhecida como Bovespa e atualmente a maior bolsa de valores na América Latina), grupos que promovem a sustentabilidade e diversos gestores de ativos. O diálogo com estas partes se centrou nas dificuldades e no futuro dos fatores ESG no Brasil. A partir dessas reuniões com os participantes do mercado foi possível perceber que há um grande interesse nos fatores ESG junto com um vasto conhecimento sobre o tema. As seguintes são as principais conclusões destas conversas.
É o momento indicado para ter interesse em soluções ESG
O Brasil está saindo do maior escândalo de corrupção da sua história: o caso Lava Jato, que envolveu a Petrobras (maior empresa estatal do Brasil), grandes empreiteiras que pagaram propinas à Petrobras a fim de ganhar licitações e altos funcionários de governo que receberam pagamentos de executivos da Petrobras. De acordo com as autoridades brasileiras, os pagamentos e honorários associados com o esquema criminoso ultrapassam US$ 2 bilhões. Dado este cenário, existe uma clara tendência positiva e se centrar na governança corporativa, bem como maximizar o valor entregue aos acionistas (ou seja, a visão de longoprazo ou os aspectos “G” dos fatores ESG) parecem estar no topo da lista de prioridades para os participantes do mercado. De fato, o programa e os temas abrangidos no congresso da ABRAPP se focaram principalmente em aspectos de governança. Considerando que as taxas de interesse no Brasil estão diminuindo e ficando mais estáveis, o ambiente faz com que as soluções sustentáveis de múltiplas classes de ativos sejam atrativas para os participantes do mercado.
O foco na educação e no país são fundamentais para o sucesso dos fatores ESG no Brasil
No congresso, foi possível perceber um apetite importante pelo intercâmbio de conhecimento e a maioria dos participantes do mercado manifestaram o seu desejo de começar a implementar a sustentabilidade em suas carteiras de investimento, sem saber exatamente por onde começar. O sucesso dos fatores ESG no Brasil, ou em qualquer lugar, dependerá consideravelmente da medida em que as partes ativas no campo da sustentabilidade ofereçam dados e pesquisas suficientes sobre as empresas locais, bem como de se existe ou não uma solução de investimento apropriada. Em ambos os casos, é necessária uma abordagem mais centrada no Brasil do que em toda a América Latina. Os investidores institucionais brasileiros entendem a importância do investimento em fatores ESG e aceitam que esta estratégia chegou para ficar. Portanto, a velha concepção errada de que investir em fatores ESG prejudica os rendimentos não foi um obstáculo para este tipo de investimento. Pelo contrário, a confusão sobre como começar o processo pareceu ser um maior impedimento do que decidir se começá-lo ou não.